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Ebook A Maldição do Sol e Lua - Capítulo 1: Infinita Guerra

  • Elizabeth Augusto
  • 2 de jan. de 2018
  • 8 min de leitura

Atualizado: 31 de mai. de 2021

Capítulo 1: Infinita Guerra

Às vezes perguntava-me, qual era o ponto disso tudo, o porquê de tanto sangue, tanto ódio, tanta guerra…?

Mas esse era meu mundo e eu vivia num mundo de infinita guerra.

Asta pertencia aos vampiros a séculos, mas de tempo em tempo, os lacaios, mais conhecidos como os lobisomens tentavam toma-la, a palavra-chave sendo tentar. E como seres superiores, os vampiros venciam e expurgavam os lacaios de nosso território.

E os restantes, os que não obedeciam nossas leis, eram exterminados, mas parece que o tempo foi bom para eles, porque cá estavam mais ousados, fortes, e raivosos.

Enquanto os vampiros antes seres selvagens temidos e maléficos voltavam-se cada vez mais complacentes, relaxados, e fracos; visto como criaturas magníficas da noite e belos amantes. E era justamente por isso que estávamos sendo brutalmente atacados agora por eles, na nossa própria casa!

Guerra, depois de tanto tempo, bateu de novo as portas da casa Corvus, e a lua de sangue banhávamos. O eclipse. Era até bíblico, na minha opinião muito irónico guerrear logo hoje no dia que era suposto abraçarmos a paz.

Os lobisomens foram espertos em escolher justamente hoje para atacar, e também desrespeitosos com nossas tradições. Hoje era o dia de ascensão de Sahara, nossa única Anciã mulher, para seu governo de um século. Era um evento sensível e sagrado a nós.

Além de que hoje, segundo a lenda, os deuses Lunar e Solaris esperavam ansiosamente para serem despertados, e como esse facto era impossível, dedicávamos o dia a celebrações e rituais antigos. Mas isso era história, lenda, conto; o que era real, verdadeiro era o que estava vendo. Perigo eminente.

O uivo nervoso dos animais peludos como um chamado de guerra ouviu-se e vi um dos meus cavaleiros estremecer, merda! Ele realmente fez isso!? Tinha que fazer algo ou perderíamos essa guerra antes mesmo da batalha sangrenta começar. E isso não podia acontecer de jeito nenhum, era muita coisa em jogo.

- Oiçam, - murmurei, e todos os vampiros que estavam nas redondezas ouviram devido ao desenvolvido sentido de audição, - sobrevivemos por décadas, séculos e milénios por nossa capacidade de domar e derrotar o inimigo! Vocês são os filhos de Lunar, criaturas temidas desde da idade da treva até os dias de hoje! Não ousem temer esse bando de cães, nossos escravos. Não passam de animais! Nunca nos venceram e não vencerão agora, pelo menos não no meu comando! Mantenham a posição!

Parei numas das altas torres da muralha que estava nessas terras antes dos aranhas céus da cidade cobrirem o solo e vi o número assustador de lobisomens que chegavam a cada minuto, aproximando-se cada vez mais do castelo, eles realmente tinham crescido em número e força.

Isso inquietou-me, nunca tinha visto nada assim. Tamanho número, organização, veneração a causa… era uma boa lutadora e caçadora, mas nunca tinha enfrentado um número tao grande em combate. Bem, como diziam: “há sempre uma primeira vez”.

Eu avisei o conselho que deveríamos ter começado a caça a esse novo e misterioso Alfa dos lobisomens, simplesmente conhecido como Bruno, que vinha criando tumulto aos clãs vampiros em Natal (nosso país) mas o grande e altivo grupo de conselheiros ignorou meu pedido afirmando que eram murmúrios sem substância.

Isso tudo porque ainda queriam manter o poder total, absoluto e cego do clã, alegando que tinham toda situação sob controlo. Jogos de política. Mas isso era real demais para meu gosto.

Não estava com medo. Em meus 99 anos nunca tinha visto uma revolta tão grande dos lobisomens e não tinha certeza que veria outra ou se iria completar o glorioso marco de um século, mas seja lá que fosse que acontecesse essa noite, morreria sem arrependimentos, pois a noite estava lírica.

Sombria, lua sangrenta, sem estrelas, só com as brilhantes luzes da altiva cidade, cintilando de longe, a gloriosa natureza nos cobrindo e o cheiro de morte e violência no ar, existia cenário melhor?

Daqui a algumas horas o sol nasceria e com isso o fim da guerra, só esperava que fossemos vencedores. Não, me negava a entregar Asta de mão beijada a esses lacaios! Era a General, chefe da guarda, e quarta na pirâmide de poder. E não foi por ser a filha querida de Samuel, meu líder, criador e pai que ganhei esse título, foi por mérito próprio.

E estes lacaios estavam por sentir a minha fúria.

Não ia dececionar meu pai, nem iria deixar cair a dinastia Corvus.

Senti alguém nas costas e virei abruptamente agarrando o pescoço do infeliz que teve a ousadia de distrair-me numa hora dessas. – Enzo!

Meu suposto noivo e prometido, como sempre apareceu em horas impróprias. Larguei seu pescoço e vi o olhar mortífero que lançou, suas roupas e semblante todo arrumado e aristocrático mostrava um homem não habituado a guerra, chiei desagradada com sua presença.

Enzo era um homem bonito com certeza, cabelo escuro sedoso que chegava aos olhos, lábios carnudos vermelhos, ascendência hispânica e um porte magnífico, eternamente congelado nos seus 30 e pouco anos e um nato diplomata, foi-me prometido por Samuel, por ele ser o Regente substituto enquanto os Anciões descasavam, uma honra para muitos, mas… não clicamos, da minha parte pelo menos.

- O que fazes aqui! Venha comigo, esse não é o lugar da senhora de Asta, na primeira linha de batalha!

Tive vontade de rir e decapita-lo de tão ofendida, mas segurei-me. - Este é exatamente o lugar da general, comandante da guarda de Asta. Estes são os cavaleiros de Asta, meus homens! E…

- E meus também! E como Regente de Asta e seu prometido ordeno que venhas comigo.

- Fazes bem lembrar que és somente meu prometido, não meu dono. Na guerra Enzo, minha palavra é lei. Insatisfeito? Convoque uma reunião com o conselho.

Pena que Samuel não acordaria tao já, pois pretendia pedir a ele que livrasse-me desse compromisso, estava mais que claro que Enzo não era o homem certo para mim. Mas faria isso com a ascensão de Sahara. A nova líder do clã.

- Samuel jamais quis que você estivesse na primeira linha de batalha e enfrentasse esses animais, no entanto cá estás, brincando de guerreira. Sinceramente, às vezes pergunto se não foi um equívoco nomear-te general? Afinal, tens menos de um século!

- Nunca. Mais. Diga. Isso.

- E como queres que reaja ante a senhora de Asta sacrificando-se?

- Eu já venci inúmeras batalhas.

- Mas isso é diferente! – Exaltou-se olhando além das muralhas seguras do castelo. – Olhe só para a quantidade deles! Essa não é umas das suas caçadas Bianca. Isto é guerra! E realmente achas que és capaz de enfrentar e derrotar aquilo?!

O estúpido do Enzo estava desmoralizando nosso exército, tinha que acabar com esse sermão depreciativo.

- Nada me daria mais prazer.

- Pelas lágrimas de sangue mulher, não ouviste nada que disse!

- Oh, ouvi sim meu Senhor, mas acontece que tenho uma batalha a comandar. Se estás tão certo que perderemos, aconselhou-te a correr, faça as malas e desapareça de Asta, mas não me impeça de defender meu povo.

E virei as costas não dando mais trela a sua presença desagradável e para minha maior alegria, Enzo não voltou a incomodar, riscou, usufruindo de um dos seus poderes, o teletransporte, só para vampiros velhos como ele. Esqueci do contratempo e tomei a dianteira olhando para os lobisomens que queriam conquistar a majestosa moradia do meu pai.

Estreitei os olhos e foquei-me num deles, pelos vistos umas das grandes cabeças da alcateia, pelo tamanho estrondoso e posição, peguei na minha arma longo alcance, mirei seu coração, nosso ponto fraco e como a essa distância não tinha como decapita-lo, atirei. Acertei o alvo.

Ouvi seu uivo de dor de longe. Tome prata seu cachorro! Rapidamente o grande filho da puta foi protegido com seus companheiros felpudos: animais grotescos que estavam no meio entre homem e lobo, formando criaturas nojentas.

Se o lacaio achava que não iria ultimar o serviço, porque daqui dava para ver que o cachorro ainda estava vivo (errei o coração!) estava enganado! Voltei a atirar no grupo enquanto uma verdadeira batalha acontecia em minha volta. Mesmo ante nossa defesa eles eram muitos, pareciam uma hidra com desejo terrorista, se matava um, dois mais apareciam para tomar seu lugar!

E para piorar, via meus homens enfrentando alguns deles já na muralha, não faltava muito para eles entrarem adentro no castelo. Ainda bem que os nobres e demais estavam super bem protegidos. Tinha que fazer algo e rápido! No meio do caos vi o lobisomem que tinha atingido, o suposto chefe, será que era um Alfa? Porque da maneira que estava sendo protegido… foi aí que tive uma ideia.

Mate o Alfa, acabe com a batalha.

Contra todos meus regulamentos saltei da altíssima muralha de quatro metros e aterrissei feito uma gata felina no relvado onde estavam a maioria dos lobisomens e seguindo meu exemplo alguns dos meus homens fizeram o mesmo e uma luta de levantar os mortos começou em terra firme.

Nós, com nosso arsenal de prata, e os lobos, com suas garras e mordidas mortíferas.

Como deixei a sniper na muralha, arranquei das costas minhas platinadas — como chamava minhas belíssimas e longas katanas gémeas: uma verdadeira jóia samurai. Kami: a lâmina de prata, brilhante a luz da lua, tsuka: a empunhadura num balanço perfeito, com lindos ornamentos metálicos, terminando com um belo kashira de prata. Simples e prática — um presente de pai, no dia que consagraram-me General, e fui cavando meu caminho até ao centro da batalha, já coberta dos pés a cabeça com sangue nojento lupino, mas nada travava-me! Finalmente encontrei os homens que estavam batendo retirada com o gravemente ferido lobo e lutei veneradamente com eles.

Eles eram bons, tinha que reconhecer isso!

Mas eu era melhor!

Apanhei meu alvo por sorte no peito com umas das platinadas que voou feito uma lança, mas era outra ferida frívola, a centímetros do coração, mas mesmo assim foi demais para ele, o grande lobisomem começou a voltar a sua forma humana como acontecia quando os lupinos encontravam-se gravemente feridos ou a beira da morte e um grande homem gemendo de dor tomava forma. Sorri satisfeita pela primeira vez na noite.

Decapitei o lacaio na minha frente e corri para ultimar o serviço do grande homem pelado que estava na minha frente com a minha katana implantada no peito, mas estatelei quando vi seu rosto banhado pela lua vermelha.

A primeira coisa que veio a cabeça foi: O lacaio é bonito. Estranhamente bonito para um animal selvagem. Apesar de conter todos traços duros presentes lá, não deixava de ser virilmente apreciável. E a segunda coisa foi: acabei de apreciar um lobisomem?

Mas era verdade, ele era um cachorro bonito. Tinha ângulos masculinos, linhas fortes e selvagens, cabelo escuro raspado e não consegui continuar com minha avaliação porque um sentimento avassalador e consumista invadiu-me e fez largar a platinada no chão. Minhas estruturas antes sólidas e frias foram abaladas.

O que estava acontecendo?

Tentei procurar a razão desses sentimentos confusos e não encontrei. Seria só pela beleza dele? Não era só a beleza dele, era… nunca fui grande apreciadora de beleza masculina, além de que o homem, aos meus pés era um cão, um inferior e… não havia justificativa para meu encanto momentâneo.

Mas também não havia como negar que ele, esse miserável lacaio, mexeu comigo de uma forma estranha, como se já o conhecesse ou algo do género, sem explicação. Mas… pela primeira vez em muito tempo senti falta de ar.

Fechei os olhos e abri os lábios numa tentativa fútil de respirar e clarear meus pensamentos, mas logo voltei a abri-los por não surtir efeito, e foi quando ele abriu os olhos que quase tive um enfarte. Eles eram o mesmo tom perigoso da cor do sol que nem todos os lobisomens, mas deles eram… diziam que os olhos eram o espelho da alma, e alma dele pertencia-me…?

Nossos olhares encontraram-se por um breve momento, mas foi o bastante e como magia prenderam-se. Ele sentiu também, vi no seu olhar, estava escrito nos contornos raivosos e frustrados.

Não. Isso não podia estar acontecendo!

Era um mito. Lenda. Fantasia.

Então…?

Eu nunca acreditei em consortes, contrapartes, parceiros destinados ou as vulgares almas gémeas como os humanos chamavam, mas… era forte, inexplicável esse sentimento avassalador que gritava dentro de mim que eu tinha encontrando a peça que faltava em minha vida. Esmagador. Não… estava delirando, era a adrenalina da batalha… não podia ser um cão, um lacaio, um lobisomem!

Nunca na história ouviu-se falar de tal par, só nos mitos de consorte ou a lenda dos deuses. E mesmo lá era impossível, porque vampiros e lobisomens não procriavam, então como iriam juntar as linhas de sangue…?

Sentimentos confusos encheram e perdi noção de tudo. Só foi preciso esse pequeno deslize para inferno explodir em minha volta, fui capturada por garras e dentes de lacaios e soube que minha hora tinha chegado por conta de um equívoco, mas antes que a nuvem preta do abismo tomasse conta de mim, vi meu lacaio rosnar, arrancar a espada do peito num uivo de dor de congelar a noite, ao pé de uma nova transformação mesmo gravemente ferido.

Algo deve tê-lo chateado mesmo ou ele era muito mais antigo e perigoso que eu pensava.

Seus seguidores prontamente largaram-me, mas era tarde demais.

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